Leio religiosamente o Post Secret nos fins de tarde de domingo, entre outros rituais que vou cultivando mais ou menos, consoante a estação do ano, o meu humor e as horas que tiver dançado na noite anterior. Domingo também é dia de sentir o sol no jardim, de reparar como a trepadeira cresce de dia para dia para lá das janelas grandes da sala, roxa, lilás, verde, viva, de tomar chá nas espreguiçadeiras da praia e enterrar os pés na areia, de ler e dobrar e riscar e depois alisar as páginas da Actual e da Única para as devolver ao meu pai nas últimas horas do fim-de-semana, quando voltam a pertencer-lhe. São rituais que guardo, esqueço, anulo e reivindico, pela ordem que me apetece e quando quero. Também posso matá-los - são meus e não envolvem prisão perpétua. Seguir religiosamente um ritual é diferente, tem mais obrigações. É outro assunto. É mais solene. Ler religiosamente o Post Secret tem o peso da entrega a uma religião sem o inconveniente dos beijinhos aos desconhecidos no fim da missa. E assim, ao sétimo dia da semana, ligo as colunas com a música-do-dia e leio os postais da vida de alguém, um a um. As Palavras. Devagar. Espero uma semana inteira por aqueles minutos em que o mundo cabe todo naquela página escura. Não tenho segredos assim, dos que só as pessoas crescidas têm. E todos os domingos sinto o mesmo: há tanta dor num segredo. No colégio aprendi que deus descansou ao sétimo dia. Sim, se existe, está de facto a descansar.