20 abril 2007

Suspiro breve deste amor 2

Disseste-me que dormisse, mas confesso que não sei dormir quando não estás em casa. Afinal somos iguais. Da próxima vez que me mandarem embora, não venho. Finges que és surda ou muda ou louca ou qualquer coisa e eu fico contigo, cúmplice da tua mentira e do desejo de colo que sinto e que sentes agora, sobre estes milhões de milímetros que nos separam. Milhões é um número enorme entre nós, mesmo que se refira a milímetros. Quem me dera que tivesses levado amigos para quem pudesse telefonar quando o teu telemóvel me encaminha para a caixa de mensagens e eu desespero por ouvir a tua voz a fingir que está tudo bem. Se souberes fingir, prometo que também sei. Prometo acreditar que estás bem, que o teu quarto não está mais vazio e que eu não estou mais pequena, mais pouco, mais nada. Prometo que ignoro o dentro do possível que ouvi agora quando liguei para onde estás e perguntei se estavas bem e se já podia percorrer os milhões de milímetros que cresceram entre mim e ti para te trazer. Se puderes brincar comigo ao "E agora", como faziamos há muitos milhões de segundos atrás, eu consigo imaginar-me a pronunciar a frase e agora tu já estavas bem e a enfermeira estava só a brincar comigo. E depois bebiamos leite com chocolate e eu era outra vez a senhora da mercearia, a pesar as avelãs na balança encarnada onde, tantas vezes, pesei religiosamente o açúcar para os bolos que me fazias, mais os rebuçados e as laranjas para o Tiago.

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