23 junho 2010

preparou-se para o que havia de vir. hesitou durante muito tempo até sentir que era o momento. a avó tinha-lhe dito que sentia qualquer coisa nas estrelas, a avó das mãos sardentas e meigas, dos linhos, das folhas-de-cheiro, das pastilhas elásticas e dos caracóis perfeitos. e, tanto quanto soubesse, até àquele dia, as estrelas nunca tinham falado de si. desde pequena que as contava e continua a contá-las hoje, sem nunca se aperceber. se lhe perguntarem muitas vezes, naquela voz que quase não se ouve, é possível que se lembre que passou muito pouco tempo desde que viu uma cair do seu céu preferido e apeteceu-lhe segui-la para perguntar o que é que ela e a avó tinham conversado quando lhe ditaram o destino. e nunca vai contar a ninguém que nessa noite pediu um desejo que já não sabe se deseja e por isso vai-se esquecendo de lembrar do que pediu. mas isto não lhe perguntem porque é segredo.

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