as ruas são sempre lavadas à quinta-feira depois do almoço. ali, os sapatos coordenam-se com a roupa e os dias da semana. os senhores desviam a água quando passamos, 20 anos depois de subir estas ruas estreitas para mimos e limonada e batatas fritas, os mesmos anos depois de passear no adamastor sem saber que um dia ia apaixonar-me ali, em cima do rio. estas ruas já sabiam a casa quando ainda nem tinha idade e só podia atravessar a estrada de mão dada. vistas as coisas, é o que me apetece fazer agora. depois descobri a mercearia das maçãs e das gomas, a senhora na porta ao lado que me põe sempre mais uma fatia de queijo na sanduiche, o homem dos pombos, a água fresca e as palavras fáceis, o sorriso pronto. se calhar um dia volto aqui para procurar uma janela que acabe no azul do tejo, como vou voltar muitos dias para encontrar os amigos que deixo na rotina feita da calçada do bairro alto.