13 junho 2009

A abacateira do pátio

Esta noite caiu no pátio o primeiro abacate, soltou-se de muitos metros enquanto eu dançava nas colinas de Lisboa. Encontrei o fruto enorme, rachado ao meio, com duas metades de polpa viradas aos ramos onde cresceu. Quando o apanhei do chão encarnado emocionada, não tive vergonha que os meus olhos se molhassem por receber vida da minha árvore. Reconciliámo-nos hoje de manhã, eu e a abacateira. Aceitei-lhe a sombra que às vezes me parece demasiada, varri-lhe as folhas secas que maldigo quase todos os dias por preguiça, sem sentir, e molhei-lhe os troncos depois de regar as plantas, concentrada para evitar os cactos. Vou fazer sushi na ilha da cozinha com o meu abacate. Para os meus amigos. E vou contar a todos que não foi comprado, que nasceu nos braços altos da árvore do meu pátio e foi-me entregue grande e maduro no chão. Começou hoje de manhã, na Lisboa fresca, o primeiro amor da minha casa no topo da avenida, depois à direita, sempre a subir a pé.

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