22 agosto 2008

se partir a vida parto-me?

Estive a reler o blog antigo. Passo frequentemente horas no Pocototeando como se não conhecesse a minha vida e as palavras e as curvas que lhe dei não fossem minhas e contassem uma história de um desconhecido que gosto de ler anonimamente. Eu na privacidade de alguém. Fica sempre um aperto no peito. Mudar de blog deixa um vazio - parece uma história diferente. Sinto que abro páginas de um livro que deixei sem fim. Sinto que comecei outro livro sem acabar o que já estava a escrever. Quase tonto, eu sei. A mania de saber o fim de tudo. O vício de delimitar. Ou o medo de acabar e de começar de novo. Provavelmente assusta-me o fim, mesmo no começo, mesmo no princípio, mesmo quando ainda não era. Quanto vale um medo? Nos diários deve ser o mesmo. Nunca soube manter um relato minimamente coordenado do que penso até não conseguir não ter história. Agora sou eu que a escrevo. Quase direita, quase por linhas tortas. Quase a saber se tenho mais medo dos começos ou dos fins. As palavras. O que tinha planeado escrever. O que não tenho coragem de escrever mas escrevo sempre. Simples. Frases que não me fazem sentido nem deixam adivinhar o que eu sei que sinto ali. Por ti ou por isto e o que não sinto. Volto a ser eu - mais ou menos e às vezes alguma coisa que se perde no nada. Quando a vida é sempre minha. E assim não parece. Nada do que fui já não sou. Desarrumada desalinhada descontinuada em processo. A sensação de não ter já folhas no diário deve ser a mesma. Ter de escrever noutras linhas, noutro sítio, de outra forma. E a vida separada por páginas que se partem quando preciso de organizar sentimentos.

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