22 fevereiro 2008

Nhô

Sempre me achei mais esclarecida, mais informada, mais interessante, até, do que tu. Achava que tinha sonhos maiores, metas mais longas, caminhos mais ricos. Que os meus desejos tinham mais vida que os teus e que sabia coisas muito mais importantes, mais relevantes, mais fundamentais do que as que tu sabes.

Reconheço agora que não. Perdoa-me.

Sei que, quando me mostras, há tanta vida em ti. Sei que sonhas como eu, mas não te interrogas tanto porque encontraste o teu espaço muito mais depressa. Sei que não te moldaste e que não te dobraste para caber numa caixinha mais pequena que os teus braços. Sei que sonhas de olhos abertos e a que a tua cabeça também corre, como a minha. Que queres ser feliz, que sabes dos passos, das pernas e dos pés e do coração nas mãos. Que te entregas aos dias com o sabor do que gostas, três vezes mais determinado, quatro vezes mais destemido, como os anos que nos separam ou juntam. Que não tens medo de te entregar (que orgulho!) e que acreditas nas coisas boas depois das coisas boas, para lá das coisas boas, nas coisas boas que tens. Que as queres. Que as queres, é isso. Sei.

Podes dizer nhô as vezes que quiseres. Provavelmente tens razão.

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